Picasso, Saramago e Amália entram num bar

O objectivo primário para a criação e alimentação de crescimento do meu WordPress, sempre virado para uma linha de ‘não partilha‘, baseava-se num exercício criativo bastante simples: obrigar-me a escrever e criar conteúdos, mesmo que não ligados à minha área de trabalho, comédia, numa base diária. Fazer da escrita uma constante no meu dia-a-dia, afinal de contas, Pablo Picasso disse algo semelhante a:

Não depende de mim que a inspiração venha, mas quando vem, encontra-me sempre a trabalhar.

Picasso, conhecido pintor espanhol falecido em 73, ficará imortalizado na área das artes pelas suas famosas obras, porém, na área da criatividade e da criação de conteúdos, guerra que encaro como sendo minha, Pablo começa a ser estudado e referenciado pela forma como encarava a sua arte, o seu trabalho e o mundo no geral.

As suas opiniões são hoje partilhadas com acento em frases que são dadas como do pintor, deixando sempre no ar a dúvida se poderemos acreditar em tudo o que lemos na Internet, mas vamos acreditar que sim, nem que seja pela mensagem por trás das afirmações com que somos confrontados, como aquela acima deixada, onde é clara a opinião de Picasso sobre a necessidade de buscar o trabalho, mesmo em momentos em que parecemos despidos de inspiração.

Claro, o ritmo de trabalho é uma constante dos meus textos e das minhas conversas com amigos, a necessidade de sabermos o que temos de fazer para chegarmos ao resultado que ambicionamos é tão ou mais importante como a nossa capacidade para o fazer, visão que Pablo não partilhava comigo, algo que poderemos constatar na sua afirmação:

Se sabemos exatamente o que vamos fazer, para quê fazê-lo?

Esta visão, é, para mim, assustadora. Embora considere que tenha uma capacidade de improviso, dentro da minha área, acima da média dos meus iguais, existe sempre um fio condutor que me leva para um resultado final já decidido. A inexistência desse rumo definido, ideia que poderá ser interpretada através desta frase, assumidamente aqui presente de forma descontextualizada do seu discurso original, choca com um poema de Amália Rodrigues, Estranha Forma de Vida,  onde podemos ler/ouvir:

(…) Se não sabes onde vais
Porque teimas em correr (…)

Um poema não sobre trabalho e motivação, mas sim, sobre a vida em si, mas para quem o trabalho faz parte da sua vida, será fácil espelhar este pensamento na busca da criação que tanto falo. Concluindo, sou muito mais Amália do que sou Picasso.

No fundo, Picasso, como qualquer artista, era um descobridor. Não de terras e mares, mas de emoções e experiências. Era um curioso natural, que buscava sempre algo que não tinha.
A forma como encarava a sua arte é uma óptima forma de ilustrar a busca incessante da felicidade, num pêndulo entre a busca e a descoberta.

Por falar em busca de felicidade, Clóvis de Barros Filho.

No meu caso, onde assumo que a minha felicidade em 90% do tempo passa directamente pelo meu trabalho, esse pêndulo é uma tortura interna, entre a vontade de criar e a falta de criação possível, pois se por um lado temos de nos obrigar a ganhar ritmo de produção, temos vultos da cultura como Saramago que dizia, em relação a escritores, que:

‘Não ter já mais nada para dizer e continuar a escrever é um crime.
Porque não tem o direito de continuar a escrever se não tem nada a dizer.’

Estamos num impasse:

  • Saramago – se não temos nada para dizer, não temos o direito de dizer nada;
  • Picasso – devemos ir dizendo algo, mesmo que não saibamos o que buscamos dizer;
  • Amália – de que serve dizermos algo, se não sabemos o que queremos dizer;

3 nomes da cultura, diferentes áreas e linguagens.

Se eles não conseguem concordar entre si, quanto mais eu poder estar mais certo que eles… Concluindo, o texto de hoje é mais de partilha de visões do que oferecer chaves para a razão.

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