‘É hoje que aprendemos o Piledriver!’
Acredito que esta fosse frase que muitos dos alunos que fui encontrando ao longo dos anos mais queriam ouvir quando estavam a treinar comigo. Arriscaria a dizer que 3 em cada 5 gostava de aprender 1001 golpes logo no inicio dos seus treinos; 1 em cada 5 prefere ficar-se pelos golpes da terceira corda e o último dos 5 aceita que tem muito a aprender e por isso quer levar tudo com mais calma.
Por norma, é esse 1 em 5 que costuma ficar a treinar comigo e que consegue chegar a um ponto em que já é viável olhar para ele como alguém capaz de estar num show de Wrestling, seja em Portugal seja noutro país qualquer.
Sem estar a parecer um velho que odeia tudo o que não seja um combate dos anos 80 só com socos, gostava que todos os que lessem este texto perdessem algum tempo a imaginar a melhor forma de rentabilizar os golpes mais simples e torná-los em golpes que sejam importantes (pegar num Arm Drag e colocá-lo a ser feito da Top Rope para cima de uma mesa com pionés a arder não conta e dá direito a ser expulso desta página).
Bem, e como já vem sendo habitual nos últimos tempos, eu gosto de fazer paralelismos entre o Wrestling e outros mundos para que seja mais fácil perceberem o que quero passar nos meus textos. Assim sendo, vou voltar a pegar no infinito mundo da banda desenhada (nota-se que é algo de que eu não gosto nada), para deixar claro que os golpes que muitos de vocês querem fazer, são tão importantes como a importância que vocês lhes dão.
Quando alguém entra numa academia de Wrestling, a primeira coisa que quer aprender são os golpes que mais gosta e que costuma colocar no Move-Set dos bonecos que cria nos jogos da WWE que joga fervorosamente. Um segredo para todos vocês: isso NÃO vai acontecer. NÃO VAI!
Recuso-me a perder tempo a justificar isto aos meus alunos, porque se acabaste de chegar e vais questionar a forma como os treinos são estruturados é porque dificilmente vais estar disposto a ouvir o que vou ter para te ensinar e por isso prefiro nem perder o meu tempo com pessoas assim. O Wrestling, como tudo na vida, exige tempo e dedicação para podermos ser bons nisso, e muita gente quando entra no WP pensa que está numa autoestrada que vai dar diretamente a um show.
Basta pensarmos no nosso lugar no show como o beijo de uma rapariga. É algo que nós queremos e por isso mesmo devemos esforçar-nos para o conquistar. É quase como que um fator de motivação para nos esforçarmos em tudo o que fizermos com ela. Claro está que existem raparigas onde o esforço não tem de ser assim tão grande para as beijar, da mesma forma que irão haver shows onde vai ser assim também. Este tipo de raparigas (ou os promotores que deixaram o Wrestling Nacional onde ele está agora) são aquelas que devem ser evitadas, porque igual a ti vão haver mais e nunca serás especial nem terás o teu lugar seguro (Rúben Branco, marketeer, poeta, escritor, wrestler, treinador e agora também conselheiro matrimonial).
Quero deixar bem claro para todos os leitores (não só os que fazem scroll no WC, mas também aqueles sonham em pelo menos experimentar um treino desta arte por tantos deixada de lado) que chegar ao primeiro treino em qualquer academia e apresentar uma lista de golpes que querem aprender, é o equivalente a irem para um primeiro encontro com uma lista de nomes possíveis para os filhos que esperam vir a ter com a pessoa que aceitou o vosso convite para um cinema. Péssima má impressão. Mas como sei que se ficar apenas por aqui vocês vão continuar a achar que eu não percebo nada disto e que o importante para ter sucesso no Wrestling são os golpes, vamos pegar em mais uns livros de BD para vos ilustrar o que quero passar. Desta vez, para não acharem que sou um fanboy da DC Comics, vou pegar em personagens de outra grande editora de banda desenhada, Marvel.
Como exemplo, vou lixar as timelines (e criar uma comparação que muitos gostavam que desse em combate) e colocar lutadores de épocas diferentes frente a frente. Os critérios usados não espelham a minha opinião pessoal sobre cada um deles, serve apenas para termos um método de comparação para aquilo que vos quero passar.
De um lado vamos pegar num lutador que é super conhecido. Stone Cold Steve Austin.
Toda a gente conhece e gosta este homem. Seja pela careca, seja pelos gestos obscenos ou por ser um badass que bebe cerveja em horário nobre e dá porrada ao patrão; seja porque motivo for, é seguro dizer que estamos a falar de um dos lutadores mais carismáticos de sempre e possivelmente dos mais populares que já passaram num ringue da WWE.
Quando olhamos para o que fazia dentro do ringue, tudo está resumido a socos, alguns pontapés e a um Stunner (isto era o que realmente importava que ele fazia, não uma lista de todos os golpes que ele sabe fazer)
Do outro lado, vamos ter um jovem lutador que ainda está no ativo (espero que assim continue muitos anos), conhecido por ser capaz de roubar o show sempre que quiser. Estou a falar do Ex Campeão Mundial (yup, custa lembrar mas já teve esse título) Dolph Ziggler.
Uma das caras de maior relevância no panorama atual da WWE, um dos melhores atletas no ativo e sem dúvida um talento quase ímpar. É fácil perceber que estamos a olhar para um homem que tem tudo para ficar para sempre na história da WWE se assim o deixarem, quando temos arenas inteiras a gritar por ele mesmo antes dele entrar. Ziggler is the man right now. Consegue ter um bom combate com quase qualquer, é um performer nato e tem uma capacidade atlética que ofusca qualquer falha que os seus adversários possam ter.
Sempre que assistimos a um combate do Ziggler, sabemos que podemos esperar super Dropkicks, saltos variados, Super Kicks, ocasionalmente mais saltos e um Zig-Zag para acabar em grande.
Mas se é assim, se descrevi aquilo que cada um dos lutadores costumava fazer em ringue, porque ainda é tão difícil olhar para o Ziggler como alguém que possa estar ao nível de um lutador como o Stone Cold? Como podemos estar mais entusiasmados por ver um lutador que só tem strikes e um golpe, do que por um que consegue fazer mil e uma coisas muito mais arrojadas?
Comics time!
Há personagens que deixaram de ser apenas produto de livros de BD, para passarem a ser símbolos muito mais icônicos. Símbolos de força, de motivação e de inspiração para muita gente. Uma das personagens mais conhecidas e midiáticas da última década, sem dúvida, que é Wolverine.
Muito se devendo à prestação de Hugh Jackman nas grandes telas, o Wolverine têm-se tornado num dos pilares dos comics que têm a assinatura da Marvel. Uma personagem simples, de calças de ganga, camisola, patilhas gigantes e com garras que saem das mãos. O Wolverine é um mutante com um poder de cura que consegue fazer sarar mais rapidamente, é mais forte e rápido que um homem normal e tem garras feitas de um material indestrutível, e é isto. É verdade, um dos super-heróis mais queridos de hoje em dia é um homem que tem garras nas mãos (e que consegue tratar de feridas sem Betadine nem ‘pensos rápidos’) e uma boa aptidão para a luta corpo a corpo.
Depois de termos falado do Super-Homem há alguns textos atrás, agora falar de um outro herói que os poderes que tem são estes pode parecer muito injusto.
Se compararmos os superpoderes do Wolverine a golpes de Wrestling (não falo apenas de golpes que ele possa ter, mas também ao equivalente a nível de impacto visual), percebemos que o Stone Cold com o seu Stunner é um ótimo Logan (se não entenderam, vão ler mais livros de BD).
Têm um aspecto semelhante, são ambos badass’s, mas mais importante, ambos são limitados naquilo que podem fazer. Mas o sucesso está lá!
Por outro lado existem personagens que por muito fortes que sejam, por muito cool que seja o seu passado elas nunca conseguem ser tão bem abraçadas pelo grande público, caso mais do que comprovado com o Surfista Prateado.
Se formos listar todos os poderes que o Surfista tem seria difícil destacar algum em especial, ter de escolher entre o poder de controlar a gravidade, controlar a matéria, conseguir viajar por todo o espaço sem necessidade de comer/dormir/respirar; entre muitas outras coisas! Estamos a falar de um ser superpoderoso!
Levando isto para o Wrestling, estaríamos a falar de um lutador muito talentoso, que já teve alguns push’s mas nunca conseguiu manter-se na maré de cima durante muito tempo. Algum nome que se encaixe aqui?
Exatamente, Dolph Ziggler.
O Dolph consegue dar nas vistas com tudo o que faz e consegue roubar o show sempre que quer, mas mesmo assim nunca esteve no topo da empresa. O lugar de destaque da WWE por poucas vezes esteve nas mãos dos golpes mais emocionantes e arriscados, mas sim nas das personalidades mais interessantes.
Nenhum Dropkick da 3ª corda pode competir com um Hulk Up; nenhum SSP pode colocar em causa uma promo do Rock, nem um MoonSault de cima de uma Steel Cage pode garantir mais lugares num show do que um ‘selling’ para a câmara com paixão.
Em suma, preocupem-se em aprender as bases e a garantir que têm uma carreira longa. Nenhum dinheiro do mundo pode pagar a saúde que se perde, se não acreditam, podem ver o documentário de um dos meus lutadores favoritos: Dynamite Kid.
Esta é a minha opinião sobre os golpes que vocês acham brutais e pensam que têm de fazer para conseguirem ser bons lutadores. Preocupem-se em ouvir quem sabe e a tentar aprender com os melhores.
Da minha parte, resta o convite para virem experimentar um treino comigo em qualquer sábado no Centro Shotokai de Queluz na academia do Wrestling Portugal.
Mais info: http://www.wrestlingportugal.com/treinos
Treinador do Wrestling Portugal
Rúben Branco
#RubenBranco123 
Mais uma vez parabéns por um excelente artigo. Curioso que também aqui poderias teres falado do Cena, f*da-se um gajo é um exemplo em quase tudo daquilo se deve fazer. Sem ser fanboy do gajo, a verdade é que ele com um moveset um pouco limitado não só consegue um sucesso tremendo como contar várias histórias dentro do ringue e ter belos combates com vários wrestlers. Se formos a ver nos últimos anos, o Cena, está envolvido em alguns dos melhores combates da WWE seja com o Lesnar, com o Punk, com o Bryan, etc etc…
Se te querer estar por a tua opinião em causa, deixa-me perguntar algo.Tudo isto que acabaste de dizer, não me parece ser sempre verdade. Acho que por vezes depende daquilo que um determinado tipo de público quer ver. Por exemplo nas indies, o Davey Richards foi um gajo que encontrou imenso sucesso a fazer as coisas a mil à hora ou fazer moves que seriam finishers para a maioria do pessoal mas que para ele acabam por ser simples moves que saem a meio do combate.
Cumprimentos
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Rei;
Antes de mais obrigado uma vez mais!
Em relação ao teu comentário, concordo plenamente contigo no que disseste sobre o Cena, ele é um exemplo até mesmo fora do Wrestling porque é alguém que se dedica a 100% àquilo que faz e o sucesso que tem deve-se muito a isso.
Na parte do Davey Richards, aproveito para dizer que ele é um dos meus lutadores favoritos dos últimos anos e fico sempre super fascinado com aquilo que ele ( entre muitos outros que andam pelo circuito independente) consegue fazer, mas tento neste WordPress dar uma visão de como conseguirmos um produto de qualidade para uma maior quantidade de fãs, apelando mais a um produto MainStream (caso da WWE) e não tanto a um produto mais de nicho (caso do circuito independente com exemplo como ROH, PWG, Etc.).
Mais tarde, penso em escrever um artigo sobre esta vertente do Wrestling que tantos fãs tem ganho nos últimos anos.
Uma vez mais, continuação de boas leituras
Rúben Branco
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Adorei Rúben, mais um ótimo artigo, achei corretissimo tudo o que disseste! Obrigado pelo artigo e aguardo o próximo 🙂
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Obrigado João Casqueiro! Espero que continues a ler e que seja sempre do teu agrado 🙂
Forte abraço
Rúben Branco
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